terça-feira, 31 de julho de 2012

O Príncipe Encantado: Marilyn na terra da Rainha

Quem já viu Sete Dias com Marilyn já deve saber que os acontecimentos narrados ali aconteceram no Reino Unido durante as gravações de O Príncipe Encantado (The Prince and the Showgirl). Marilyn teria supostamente tido um ligeiro affair com Colin Clark, um dos assistentes de Sir Laurence Olivier. O garoto era responsável por lidar com a estrela no set e diverti-la fora dele. Apesar de curto, o relacionamento serviu para Clark escrever um livro e, recentemente, essa obra serviu de base para o filme estrelado por Michelle Williams - que concorreu ao Oscar de Melhor Atriz.

Mas não é sobre "Sete Dias com Marilyn" que vou falar neste post (quem sabe no futuro...). "O Príncipe Encantado" se destaca na filmografia de Marilyn por ter sido produzido por sua empresa comandada em parceria com Milton H. Greene, a Marilyn Monroe Productions. Como já mencionei anteriormente, a atriz buscava nesta época papeis diferentes daqueles que vinha interpretando em seus filmes mais recentes. Por esse motivo, ela se empenhou em fazer deste projeto um trabalho mais "sério" desde o início. Marilyn se encontrou pessoalmente com Terence Rattigan para adquirir os direitos da peça "The Sleeping Prince".


Quando o acordo foi fechado, não restou dúvidas sobre quem deveria encarnar o protagonista. Laurence Olivier já havia interpretado o papel nos palcos londrinos ao lado de sua mulher Vivien Leigh. Não seria difícil convencê-lo a se juntar ao projeto. Ele também tinha outro motivo para participar desse filme. Chegando aos 50 anos de idade, Olivier começou a perceber que sua carreira não ia muito bem das pernas. O tônico que achou que iria restaurar sua antiga glória atendia pelo nome de Marilyn Monroe. Ela também lucrou com a entrada dele. Afinal, nada melhor do que ser vista ao lado do maior astro do cinema e de um dos atores mais sérios e respeitados para conseguir ser levada a sério. 

Marilyn chegando em Londres com Arthur Miller
Com tudo arranjado, Marilyn partiu para Londres com seu marido Arthur Miller apenas duas semanas depois de terem se casado. Os dois se instalaram em uma mansão confortável, mas não estavam sozinhos. Paula Strasberg, a professora de atuação de Marilyn, foi com eles para guiar a atriz durante as filmagens. Ela recebia o terceiro maior salário entre as pessoas envolvidas com o longa-metragem; sua folha de pagamento só não era maior que a dos dois protagonistas. Marilyn ainda não se sentia segura para atuar de maneira independente e Paula controlava cada gesto, entonação e olhar da atriz. Não é preciso dizer que isso mais uma vez foi motivo de discórdia com o diretor, cargo acumulado por Olivier.

O problema Strasberg somado aos famosos atrasos de Marilyn e sua dificuldade em lembrar as falas causaram diversos atrasos na produção em si. Só para ter como exemplo: uma cena em que Marilyn come caviar levou dois dias, 34 takes e 20 potes de caviar para ser filmada. A situação entre o diretor e a protagonista só piorou com o passar do tempo. Ele teria falado com certa maldade que a única coisa que ela devia fazer era ser sexy, o que contrariava o que Marilyn estava buscando naquele momento para sua carreira. Talvez devido ao trauma que passou, Olivier só voltaria a dirigir outro filme 14 anos depois. 

Marilyn e Olivier em cena
Apesar de tudo isso, as filmagens terminaram antes do previsto. O filme que conta a história de um príncipe sério e sem senso de humor que conhece uma atriz atrapalhada e divertida foi lançado em meio a um clima misto. Nos Estados Unidos, "O Príncipe Encantado" não foi um sucesso nas bilheterias e recebeu críticas mornas. Já na Europa as críticas foram, em sua maioria, positivas e a atuação de Marilyn chegou a conquistar prêmios na França e na Itália. 

Como sempre, as câmeras não capturaram nenhum dos problemas citados anteriormente. A única coisa que podemos ver é magia de Marilyn interpretando uma personagem ingenuamente cômica. Anos mais tarde, Olivier admitiu que trabalhar com Marilyn valeu a pena. "Ela era maravilhosa, a melhor de todas", declarou. Nós não podemos deixar de concordar com você, Sir. 

"Cheerio"

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Nunca Fui Santa: Um lugar entre os deuses

Nunca Fui Santa (Bus Stop) foi baseado em uma peça de sucesso da Broadway. Teve 478 apresentações e ainda uma indicação ao maior prêmio do teatro norte-amerincano, o Tony Awards. Mais uma vez prevendo sucesso, a Fox comprou os direitos de adaptação e entregou nas mãos do diretor Joshua Logan.

É importante ressaltar que essa foi a primeira co-produção da recém-fundada Marilyn Monroe Productions.  A atriz que dá nome à empresa se reuniu com o fotografo Milton Greene nesta empreitada cujo objetivo maior era aumentar a qualidade dos filmes que Marilyn estrelava. Fazia tempo que a atriz estava cansada de ser a loira sexy e burra. Ela queria mais. Chegou a dizer em uma coletiva de imprensa realizada para anunciar a criação da empresa que desejava atuar em algo como "Os Irmãos Karamazov", de Dostoiévski. De burra ela não tinha nada...

Marilyn chegou a recusar alguns papeis que tinham o perfil de personagem que estava tentando evitar. Isso levou ela a quebrar o contrato com a Fox e deixar que seus advogados lidassem com a situação. Foi o necessário para que o estúdio começasse a publicar declarações na imprensa para ofender a atriz. Resumindo a história, Marilyn voltou para a Fox com um contrato revisado e com mais liberdade artística.

Marilyn e seu sócio Milton Greene
Depois de todas essas confusões, as gravações de "Nunca Fui Santa" finalmente começaram. O filme conta a história de um cowboy espontâneo e sem modos do interior dos EUA que é conhecido pelo apelido de Bo (Don Murray). Junto com Virge, seu amigo, ele pega um ônibus para Phoenix para participar de um rodeio. Quando chega lá, encontra uma péssima cantora de boate chamada Cherie (Marilyn Monroe) e se apaixona no momento em que coloca os olhos nela. O sentimento é tão grande que Bo decide se casar com a moça quase que imediatamente e arrasta ela para sua fazenda em Montana. 

O casal parece não combinar no começo e, até a cena na parada de ônibus, você se pega torcendo para Cherie fugir logo das garras de Bo. Porém depois dessa cena é inevitável não mudar de time e torcer pela felicidade deles. O cowboy é irritante, mas cresce no decorrer do longa-metragem. Já Cherie é completa: faz o público rir e chorar. Não é a toa que alguns historiadores acreditam que esse é o melhor trabalho de Marilyn. Sua personagem é apaixonante e intensa.


Marilyn e o novato Don Murray no set
A atriz teve seu visual alterado para interpretar Cherie. Ela ficou mais pálida graças aos poderes da maquiagem. Dessa forma, a rotina da personagem de trabalhar de noite e dormir de dia ficou estampada no rosto de Marilyn. Além disso, o famoso loiro platinado da ex-Mrs. DiMaggio foi suavizado para um tom mais próximo do mel. Também é notável o trabalho que  Marilyn realizou com sua voz e o sotaque típico do Arkansas que foi utilizado por ela para dar vida a Cherie. Don Murray também merece elogios por sua performance de estreia nos cinemas. Ele chegou a ser indicado ao Oscar por seu papel como Bo.


"Nunca Fui Santa" é uma comédia-romântica-dramática excelente de se assistir (muitas vezes). Marilyn está em um de seus melhores papéis e encanta o público com uma performance perfeita. Se em O Pecado Mora ao Lado ela se consolidou como sex symbol, é seguro dizer que em "Nunca Fui Santa" a atriz se consolida  no panteão cinematográfico como tal: uma atriz.


Uma das melhores cenas do filme

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O Pecado Mora ao Lado: As ilusões de um homem de meia-idade

Uma loira maravilhosa com um vestido de algodão branco simples e bem marcado pára sobre uma saída de ar do metrô de Nova York. Inocentemente, ela deixa o trem passar embaixo de seus saltos enquanto seu vestido é levantado por um vento refrescante mais do que bem-vindo no verão escaldante de Manhattan. 

Essa cena de O Pecado Mora ao Lado (The Seven Year Itch) protagonizada por Marilyn Monroe ficaria gravada no subconsciente do público tanto quanto a trilha sonora de suspense criada por Alfred Hitchcok em Psicose. Alguns nem sabem qual é o filme, outros nem imaginam que é um filme, mas todos compartilham uma mesma informação: a loira maravilhosa é Marilyn. Isso é prova de que o longa-metragem dirigido por Billy Wilder estabeleceu de vez a atriz como símbolo sexual número um do mundo.

A história que deu origem a esse clássico foi encenada primeiramente na Broadway e teve mais de mil apresentações com a casa cheia. Avistando sucesso nas telonas, a Paramount comprou os direitos de adaptação da peça, mas, quando Billy Wilder saiu deste estúdio para a Fox, ele levou consigo a história.

Marilyn se apaixonou por "O Pecado Mora ao Lado", porém o todo-poderoso Darryl F. Zanuck, presidente da Fox, só deixaria a atriz atuar no filme se ela antes gravasse uma participação no grandioso "O Mundo da Fantasia". Foi o que ela fez e assim conseguiu o papel da "garota".

Marilyn conseguiu o papel da "garota"
Na comédia, Richard Sherman (Tom Ewell) é um homem de 38 anos que é casado e tem um filho. Quando o verão chega em Manhattan, era costume naquela época que as mulheres e crianças fossem passar uma temporada na praia ou em algum lugar menos quente. É exatamente isso que a família de Sherman faz, deixando o homem sozinho na Big Apple. Qual não é a surpresa dele quando chega em sua casa e percebe que o apartamento de cima tem uma nova inquilina (Marilyn Monroe)? E que inquilina!

A imaginação fértil de Sherman logo começa a imaginar cenas em que ele e a garota se envolvem em um tórrido romance. A maior parte das situações acontece na cabeça dele porque a moça é um poço de inocência. Ela não sabe o efeito que causa nos homens e não percebe grande parte das investidas do chefe de família. Talvez seja por isso que a maioria dos trajes de Marilyn sejam brancos, para sugerir esse ar virginal.

As cenas hilárias são diversas. Como não rir quando Marilyn/A Garota olha diretamente para a câmera e encena a propaganda de creme dental? Ou ainda no momento em que os dois protagonistas tocam piano juntos. "O Pecado Mora ao Lado" é um dos filmes que reforçam a opinião de alguns fãs e críticos de que Marilyn nasceu para a comédia.

A cena do piano é impagável!
Mas esse não seria um filme de Monroe se não tivesse passado por problemas. A cena descrita no início desse texto foi acompanhada por mais de 5 mil pessoas. Talvez isso e o fato de que Joe DiMaggio, o então marido da atriz, também estar presente fez com que Marilyn precisasse repetir mais de 40 vezes esse take. No final, o áudio não ficou bom por causa do barulho da multidão e Wilder preferiu recriar em estúdio essa parte do longa. 

As coisas não terminaram por aí para o casal de astros. Reza a lenda que DiMaggio ficou furioso por ver sua esposa tão exposta na frente de tanta gente. Existem relatos de que, quando os dois chegaram no hotel em que estavam hospedados, houve uma briga feia que acabou em agressão. Marilyn não foi trabalhar no outro dia alegando estar com gripe. O fato é que o casamento deles acabou durante as filmagens deste filme.

Gravação da fatídica cena
Como se isso não bastasse, os remédios que Marilyn estava tomando começaram a ter efeito mais visível durante as gravações. As repetições e os atrasos constantes são prova disso. Isso tudo fez com que o orçamento engordasse mais U$ 1.8 milhão do que o previsto. Nada que a bilheteria não compensou depois. 

"O Pecado Mora ao Lado" é um daqueles filmes obrigatórios para qualquer fã de Marilyn ou mesmo de cinema. Com um diretor renomado e uma atriz como Marilyn, a produção é fácil uma das melhores comédias-românticas que já vi.

Marilyn descansando entre uma cena e outra

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Conheça o elenco da série Smash

Como um fã de Marilyn Monroe e de musicais, eu não poderia deixar de assistir a novata Smash. A série é produzida por Steven Spielberg e conta os dramas que ficam na coxia de uma produção da Broadway. Já no primeiro episódio é possível ver como essa foi uma combinação que deu certo porque alguns momentos da vida de Monroe se encaixam perfeitamente com o que os protagonistas estão passando. Pelo que é possível perceber até aqui, a série contará com músicas inéditas, sucessos contemporâneos e canções cantadas por Marilyn. Mas quem são esses personagens que vamos acompanhar durante pelo menos uma temporada? Aqui vai uma breve biografia de cada um:


Karen Cartwright (Katharine McPhee): Katharine McPhee é uma survivor. Ops, reality show errado. Ela participou da quinta temporada do American Idol, mas chegou na final e perdeu. Isso não importa porque agora ela é a estrela de Smash! Sua personagem é Karen Cartwright, uma jovem do interior dos EUA que vem para Nova York realizar seus sonhos. Mas as coisas não saem como planejado. Ela acaba trabalhando como garçonete enquanto participa de audições para conseguir o papel de sua vida. O que ela não esperava é ser chamada para participar de uma nova produção sobre a vida de Marilyn. Atualmente, ela namora Dev.


Ivy Lynn (Megan Hilty): Megan é uma estrela da Broadway assim como Ivy. A atriz estrelou Wicked e 9 to 5: The Musical. Mas não parou por aí. Ela também participou de séries como Ugly Betty, CSI Desperate Housewives. Já sua personagem em Smash já participou de vários musicais de sucesso e é a preferida de Tom Levitt. Mas essa preferência não vai dar o papel de Marilyn para ela assim tão fácil. Ela terá que competir com a novata Karen para ver quem se sai melhor. No episódio piloto, fica a impressão de que ela tem alguns problemas com sua família.


Julia Houston (Debra Messing): Interpretada pela eterna Grace (Will & Grace), Julia é uma compositora da Broadway com algumas peças de sucesso como "Heaven on Earth". É conhecida por trabalhar em parceria com Tom Levitt nas músicas das peças que criam. Além disso, é casada com Frank, tem um filho chamado Leo e está tentando adotar uma criança. A família vive no Brooklyn.


Tom Levitt (Christian Borle): Christian Borle atuou em diversas peças da Broadway e já ganhou um Tony por sua atuação em Legally Blonde. Ninguém melhor que Borle para interpretar Tom Levitt, parceiro de Julia e também compositor. É solteiro e vive no Upper West Side. 


Derek Wills (Jack Davenport): O ator pode não ser muito conhecido - apenas algumas participações em séries e filmes, mas Derek Wills é um dos diretores mais requisitados da Broadway e vencedor de dois Olivier Awards. Filho de um flautista conhecido, ele já trabalhou com Tom Levitt e a experiência não foi das melhores. Vive em West End e é famoso por ser mulherengo.


Eileen Rand (Anjelica Huston): Anjelica Huston é uma carinha conhecida de muitas séries e filmes. Talvez um dos seus personagens mais marcantes tenha sido Morticia Addams nos dois longas da franquia. Mas isso pode mudar porque Eileen Rand promete! Vencedora de muitos prêmios, Eileen é uma produtora na Broadway por mais de 25 anos ao lado de seu marido Jerome Rand. Também é uma professora nas horas vagas. Atualmente, está enfrentando um divórcio complicado. Essa mulher forte e guerreira vive no Upper East Side.


Ellis Boyd (Jaime Cepero): Nascido e criado no Harlem, Ellis é o assistente de Tom. Ele está emocionado de poder acompanhar de perto o nascimento de um musical da Broadway. Mora em Williamsburg.


Dev Sundaram (Raza Jaffrey): Dev nasceu no Reino Unido, mas viveu grande parte de sua vida com seus parentes no Queens. Ele trabalha no escritório do prefeito e é apaixonado por Nova York! E também por Karen, sua namorada. Os dois vivem juntos em Lower Manhattan.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O Rio das Almas Perdidas: O faroeste problemático

Depois de passar um tempo na prisão, Matt Calder ganha sua liberdade e vai ao encontro de seu filho. Os dois decidem se instalar em uma fazenda no oeste norte-americano e ganhar a vida honestamente. Eles não esperavam que uma cantora de cabaré aparecesse e virasse tudo de pernas para o ar. O trio logo se vê em uma jangada descendo um perigoso rio atrás de um homem que roubou o cavalo e o rifle de Calder.

Lendo a sinopse de O Rio das Almas Perdidas (The River of No Return), ninguém acredita que este é um dos filmes de Marilyn Monroe. Talvez nem ela acredite. Isso porque o diretor Otto Preminger e a atriz foram forçados por seus contratos com a Fox a fazer esse filme.  Um faroeste estava por último na lista do que fazer da atriz. Mas de nada adiantou. A equipe toda logo embarcou em um trem para o Canadá para iniciar as filmagens.

As cenas externas foram filmadas em dois parques nacionais canadenses (Banff e Jasper). Além disso, teve cenas gravadas no lago Louise. Os lugares são maravilhosos e talvez por isso Darryl F. Zanuck decidiu aumentar o orçamento da produção e filmar em CinemaScope. Já as cenas interiores, close-ups e apenas uma do rio foram feitas no estúdio.

Que paisagem!

Além de diamantes e vestidos, Marilyn também levou mais um item de valor junto com ela para a terra dos guardas florestais: Natasha Lytess. A técnica de atuação da atriz foi - mais uma vez - motivo de briga no set. Otto Preminger achava inadmissível que Lytess desrespeitasse algumas de suas ordens e exigisse que algumas cenas fossem refilmadas. O diretor pediu para Zanuck retirá-la, mas como seu pedido não foi atendido ele descontou sua frustração em cima de Marilyn durante o resto das gravações.

Além de lidar com Natasha, Preminger teve que enfrentar muitas chuvas, a bebedeira de Robert Mitchum e um tornozelo quebrado de Marilyn que a afastou do set por alguns dias. A pós-produção também não passou sem perturbações. O diretor teve que viajar para a Europa e seu colega Jean Negulesco refilmou algumas cenas. Toda essa experiência foi tão traumatizante para Otto que ele pagou uma multa de $150,000 para cancelar seu contrato com a Fox depois do lançamento do filme.

Um dos diversos problemas que Otto teve que enfrentar...

Mesmo depois da demissão de Preminger, o filme ainda "causou". Marilyn diria mais tarde que "O Rio das Almas Perdidas" foi seu pior trabalho e o diretor continuaria alfinetando a atriz até 1980 quando disse em entrevista ao Daily News que não poderia ficar bravo com uma pessoa quando ela dá o seu máximo.

Apesar destes problemas, as filmagens foram finalizadas dentro do prazo e do orçamento previsto. A pré-produção levou doze semanas - foi nesse período que Marilyn filmou seus quatro números musicais - e as filmagens duraram 45 dias.

Imagem de bastidor
"O Rio das Almas Perdidas" apresenta uma Marilyn um pouco diferente daquela que vemos em Os Homens Preferem as Loiras ou em Como Agarrar um Milionário. Apesar do ar femme fatale estar presente, ela conseguiu dar um pouco da rudez necessária aos personagens de faroestes. A voz de Monroe não está tão sussurrada, tão sexy; está mais forte e digna de alguém como Kay. Parece que até seus números musicais estão diferentes... Porém os elogios não vão só para a atriz. Robert Mitchum incorporou o herói do oeste e todas as características familiares ao tipo.

Os figurinos de Travilla mais uma vez estão impecáveis. Desde as vestes de show de Kay até a a roupa típica de cowgirl, tudo já nasceu um clássico. Apesar de todos esses elogios, o filme peca em alguns momentos com erros de continuação e falta de trilha-sonora em momentos de tensão - como a luta entre Matt e Colby. Claro, nada que comprometa a experiência de ver Marilyn em um papel tão diferente de seus personagens anteriores.

"Segura, Berenice!"

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Como Agarrar um Milionário: Um óculos, duas pernas e muitas risadas

Baseado em uma peça chamada "The Greeks Had a Word for It", que inaugurou na Broadway em 1930 e  encerrou as apresentações em 1931 após 253 performances, Como Agarrar um Milionário conta a história de três amigas - interpretadas por Marilyn Monroe, Lauren Bacall e Betty Grable - que alugam um apartamento chique em Nova York para conseguir entrar na alta sociedade e "agarrar" um milionário. Como era esperado, nada aconteceu como planejado e elas tem que vender os móveis da casa alugada para poderem sobreviver enquanto os meses passam sem nenhum resultado. Qualquer detalhe a mais da história, pode ser considerado spoiler e estragar a diversão.

A Fox havia criado naquele ano de 1953 uma nova tecnologia chamada CinemaScope. Essa técnica marcou o início das filmagens em widescreen, formato que predomina até os dias de hoje na gravação e exibição de filmes. A abertura com a orquestra comandada por Alfred Newman preenchendo toda a tela foi um dos modos da produção explorar a nova técnica. "Como Agarrar um Milionário" foi o primeiro filme a terminar de ser produzido em CinemaScope, porém foi lançado depois de "O Manto Sagrado, que ficou conhecido como precursor da nova tecnologia. E, falando de inovações, a produção também foi uma das primeiras a utilizar som estereofônico.

Dirigido por Jean Negulesco, o filme foi gravado em cerca de seis semanas. Apesar dos habituais atrasos de Marilyn, Negulesco conseguiu gravar em um tempo razoavelmente curto. Inclusive, comentava-se no estúdio que Bacall ficava irritada com esses atrasos da atriz e também com os pedidos de sua técnica de atuação Natasha Lytess - presença constante nos primeiros filmes da loira - para repetir algumas cenas. Apesar disso, segundo a própria Bacall, não odiava Monroe. Dizia que existia algo de triste nela. Já a relação de Grable com a Marilyn era diferente. Os boatos dizem que as duas se davam bem e a primeira teria dito para a segunda: "Meu bem, eu já tive. Vá buscar o que é seu. É sua vez". Sinto arrepios só de imaginar essa cena.

O trio de protagonistas. Detalhe: o famoso shorts azul de Betty e suas pernas.

As três protagonistas estão em excelente forma. O dilema da personagem de Marilyn com sua miopia provoca situações hilárias e reforça o ponto de alguns fãs da atriz de que ela nasceu para fazer comédia. Betty Grable está no auge de sua carreira. Depois de "Como Agarrar um Milionário", a atriz não fez mais nenhum filme relevante e acabou morrendo em 1973. Lauren Bacall é a cabeça do trio - talvez uma brincadeira dos produtores por ela ser a única com cabelos não-loiros - e também presenteia o público com uma performance bonita de se assistir.

A comédia romântica também brinca com alguns fatos da vida de suas estrelas. Quando Bacall diz que adora homens mais velhos como aquele ator de "Uma Aventura na África", ela está se referindo a Humphrey Bogart, ator que era então seu marido. A mesma situação acontece quando Betty Grable escuta no rádio um trompetista e diz que é Harry James, seu marido na vida real.

Marilyn Monroe e Betty Grable na premiere de "Como Agarrar um Milionário. Momento épico!

O figurino do longa mereceu a indicação ao Oscar de Melhor Figurino. É claro que as atrizes que usavam as roupas ajudaram. Destaque para as roupas meticulosamente feitas para Marilyn - como sempre. Só ela conseguiria entrar em um vestido como aquele vermelho-rosa-roxo com apenas uma alça. O maiô da cena do desfile consegue arrancar suspiros dos homens até hoje. O figurinista - o famoso e requisitado Travilla -também foi esperto ao escolher trajes que destacavam as famosas pernas de Betty Grable - o shorts azul é um clássico! - e vestes que se adequaram a elegância de Bacall.

O resultado não poderia ser outro. "Como Agarrar um Milionário" foi a segunda maior bilheteria de 1953, ficando atrás apenas de "A um Passo da Eternidade".

Mais um dia comum em algum set de filmagem dos anos 50