quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O Rio das Almas Perdidas: O faroeste problemático

Depois de passar um tempo na prisão, Matt Calder ganha sua liberdade e vai ao encontro de seu filho. Os dois decidem se instalar em uma fazenda no oeste norte-americano e ganhar a vida honestamente. Eles não esperavam que uma cantora de cabaré aparecesse e virasse tudo de pernas para o ar. O trio logo se vê em uma jangada descendo um perigoso rio atrás de um homem que roubou o cavalo e o rifle de Calder.

Lendo a sinopse de O Rio das Almas Perdidas (The River of No Return), ninguém acredita que este é um dos filmes de Marilyn Monroe. Talvez nem ela acredite. Isso porque o diretor Otto Preminger e a atriz foram forçados por seus contratos com a Fox a fazer esse filme.  Um faroeste estava por último na lista do que fazer da atriz. Mas de nada adiantou. A equipe toda logo embarcou em um trem para o Canadá para iniciar as filmagens.

As cenas externas foram filmadas em dois parques nacionais canadenses (Banff e Jasper). Além disso, teve cenas gravadas no lago Louise. Os lugares são maravilhosos e talvez por isso Darryl F. Zanuck decidiu aumentar o orçamento da produção e filmar em CinemaScope. Já as cenas interiores, close-ups e apenas uma do rio foram feitas no estúdio.

Que paisagem!

Além de diamantes e vestidos, Marilyn também levou mais um item de valor junto com ela para a terra dos guardas florestais: Natasha Lytess. A técnica de atuação da atriz foi - mais uma vez - motivo de briga no set. Otto Preminger achava inadmissível que Lytess desrespeitasse algumas de suas ordens e exigisse que algumas cenas fossem refilmadas. O diretor pediu para Zanuck retirá-la, mas como seu pedido não foi atendido ele descontou sua frustração em cima de Marilyn durante o resto das gravações.

Além de lidar com Natasha, Preminger teve que enfrentar muitas chuvas, a bebedeira de Robert Mitchum e um tornozelo quebrado de Marilyn que a afastou do set por alguns dias. A pós-produção também não passou sem perturbações. O diretor teve que viajar para a Europa e seu colega Jean Negulesco refilmou algumas cenas. Toda essa experiência foi tão traumatizante para Otto que ele pagou uma multa de $150,000 para cancelar seu contrato com a Fox depois do lançamento do filme.

Um dos diversos problemas que Otto teve que enfrentar...

Mesmo depois da demissão de Preminger, o filme ainda "causou". Marilyn diria mais tarde que "O Rio das Almas Perdidas" foi seu pior trabalho e o diretor continuaria alfinetando a atriz até 1980 quando disse em entrevista ao Daily News que não poderia ficar bravo com uma pessoa quando ela dá o seu máximo.

Apesar destes problemas, as filmagens foram finalizadas dentro do prazo e do orçamento previsto. A pré-produção levou doze semanas - foi nesse período que Marilyn filmou seus quatro números musicais - e as filmagens duraram 45 dias.

Imagem de bastidor
"O Rio das Almas Perdidas" apresenta uma Marilyn um pouco diferente daquela que vemos em Os Homens Preferem as Loiras ou em Como Agarrar um Milionário. Apesar do ar femme fatale estar presente, ela conseguiu dar um pouco da rudez necessária aos personagens de faroestes. A voz de Monroe não está tão sussurrada, tão sexy; está mais forte e digna de alguém como Kay. Parece que até seus números musicais estão diferentes... Porém os elogios não vão só para a atriz. Robert Mitchum incorporou o herói do oeste e todas as características familiares ao tipo.

Os figurinos de Travilla mais uma vez estão impecáveis. Desde as vestes de show de Kay até a a roupa típica de cowgirl, tudo já nasceu um clássico. Apesar de todos esses elogios, o filme peca em alguns momentos com erros de continuação e falta de trilha-sonora em momentos de tensão - como a luta entre Matt e Colby. Claro, nada que comprometa a experiência de ver Marilyn em um papel tão diferente de seus personagens anteriores.

"Segura, Berenice!"

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